sábado, 22 de agosto de 2015

Ribanceira

Ela se choca seriamente à facilidade de se estar em ódio. A rapidez do pensamento e das atitudes impensadas, das palavras mal expressadas e da gratidão não dita.
A falta que faz um retorno nascido das expectativas.
Um tanto duro não se deixar levar pelo movimento quase natural de culpar o próximo por não corresponder ao script, por não seguir cada fala. Fato que na vida o outro pode improvisar tanto que termina sua fala e vai embora.
E cá fica o curta metragem, fim sem gosto de fim, vento com gosto de abandono, história que se esvai pelas mãos.
Até onde o ser humano se deixa levar? Até onde vai a persuasão do outro e quanto tempo preso vive uma vontade afogada pelos anos?
E quando rompe feito corrente nova que simplesmente quebra por falta de qualidade de material, que se desfaz? Cair da própria altura (ou pior, da altura do próximo) e erguer de si mesmo é um problema e tanto. Mas algo tão necessário que não devia ser surpresa ou inovação na altura do campeonato. E ela apenas se lembrara disso ao seu rosto encostar bruscamente no chão.
E aos poucos, toma altura. Toma postura. Conforme isso ocorre, o horizonte se abrange.
Respira e arde, respira e alivia. Respira e doi, respira e alegria. Faz parte.
Agradece os aprendizados e os exemplos do que não mais aceitar ou não mais fazer pra si.
Aquele rosto se grava como a mais bela e nova desilusão dos últimos tempos. Quiçá, a maior e mais estapafúrdia delas. Balança a cabeça negativamente e olha pro céu. Tenta, novamente, entender a vida, sem sucesso algum.
E com um meio sorriso, ela de despede daquela rotina e da frágil maturidade, que com tanto espaço, não soube caber e crescer.
E anda pra frente, sem olhar pra trás.
Porque pra vida, só quem se atreve a viver.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

chuva

Calma. Tenha calma que a vida não é só isso tudo não.
Vou te falar, tu tem mais é coisa pra viver.
To falando sério!
AS coisas andam meio esquisitas, o coração de vez em quando faz força, sinal de que tá vivo, dá pontadas, sofre... Normal.
Não é a primeira vez e arriscaria a dizer que não será a última.
Tudo tem seu tempo.
Ando acreditando que a vida não tem respeitado o meu tempo. Ou seria eu?
As coisas raramente estão se casando, se encontrando. O mundo atual mais me parece um samba do desencontro do que qualquer outra coisa.
Dói tanto enxergar isso. Me dá um nó.
E olha que nó, já sou.
Me admito ansiosa, me desfaço em lamúrias, enjôo, agonizo.
Se está tudo cedo, também acho que é cedo demais pra sofrer.
Um romper.
As sensações e os sentimentos de forma alguma são controláveis, entendo e respeito isso.
Tanto que estou a ponto de enlouquecer de saudade ou do que penso que sinto que é saudade, ou do teu corpo ou do corpo de ter alguém, que estou aqui, miando em outro local aquém teu ouvido, teu espaço.
Esse esforço todo me tira as energias, me torno sedenta de saudade. Ou do que tentei entender do que chamo saudade.
As coisas não são só. São muitas. São além.
Mas não sou eu que preciso entender isso...
Eu quero, e doi. Porque uma coisa é dizer, outra é fazer.
“Pode ser” não é “Beleza, fechado”.
To tentando aprender tanto tanta coisa junto que nem sei mais diferenciar e nem dizer o que é o que.
To doida.
Bem que a criança avisou.
Essa agonia vai passar, não vai?
Ela bem que podia passar agora, e eu entender de uma vez por todas o que quer que a vida queira me mostrar, com você, com tudo.
Dessa vez choro menos, mas não sei se sofro menos.
Tempo não é medida, é energia.
Me moldo nas intensidades de tudo.
Mergulho muito além do que o normal.
Essas cicatrizes não estão aqui a toa.
Apesar de tudo meu sorriso é natural
Sorte daquele que o arranca assim
Assumo doer, assumo morrer
Toda vez que o amor me deixa.
E assumo viver, assumo florescer
Toda vez que o amor retorna.
Agora, assumo ceder.
Assumo sofrer.
Antes de mais nada, assumo você.
Assumo sua falta, sem ninguém precisar perguntar.
Assumo gritar sua volta, ainda que esteja parcialmente aqui.
Fica faltando um pedaço, como bem diz o poeta.
Volta, assume, e não some.

Que de sumiço, já basta o bom da vida.

sábado, 28 de junho de 2014

Das sensações que carrego, espero.

Num giramundo insano
as coisas parecem não ter fim
as soluções rodeiam e se dão através de retalhos
Nada é novo, nada brilha
É como acender um cigarro que já acabou
Pra fumar desesperadamente seu filtro
Só pra ter a ilusão de que alcançou seu objetivo de forma plena

Apesar de todo mundo saber que não é bem assim.

Mil ventos balançando minha roseira
E ficar aqui parece inútil
Ainda que eu tente entender, que eu tente enxergar algo além
Nada vem. Nada além. Tudo aquém.

Costumava dizer que não tinha medo do chão
Do impacto do meu rosto com o asfalto
E realmente creio que não tenho
Mas quedas repetidas da própria altura, um dia cansam.

Que há pra ser feito em meio à tanta coisa?
Tanta coisa pesada, que insiste, que persegue
Que sodomiza, que embota, que escurece todo o ser.
Que há pra ser feito, que há pra se fazer?

Por que tem que sempre existir ações que desmentem palavras?
Por que sonhos cada vez mais voam perto do chão?
Por que a vida se desenrola nessa confusão?
Por que a angústia não dá lugar à construção?

Vida, deixa eu manter meu sorriso em paz.
Deixa meu olhar brilhar mais.
Não me faça endurecer.
Não me faça enlouquecer.

São tantos gritos desesperados em tantas direções
E mesmo assim, sem respostas, sem reações.
Não sei se sabem, mas apesar de também ser resposta,
O silêncio doi demais.

Alegrias espontâneas com tempos esgotando no segundo em que começam
A vida não pode ser assim tão frágil, tão pouca.

Eu quero enxergar, quero mudar
Quero despir-me de tudo que não me presta mais, em mim e no outro
Quero mudanças ativas, quero o beijo, afago e o louco.

Desbravar as minhas diferentes identidades
Perceber como se vive de verdade
Escutar o som que vem a mim e me dar por feliz
Ser contente com o que tenho e o que posso ter, sem sentir a vida por um triz.

Escrever minhas poesias, sanar meus vazios sempre que der
Enchê-los de locomotivas, pra lidar com o que vier
Fazer dessas vidas que acredito tocar
Extensões do meu lar

Gritar por puro direito, sem nó no peito
"Eis-me aqui, que me encontrei quando prometi partir (de mim mesma)."

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Terça-feira

Não é pra suportar.
Não é pra cumprir compromisso.
Voa. Vá, agora.
Teu coração se exalta perante à tanto sofrer de alma.
As pessoas ao entorno passam. Não notam.
Talvez seja melhor assim.
Que diabos é a vida?
Moinhos e ventos que brigam
Num intervalo de tempo chamado eternidade.
Nós não somos tão reais quanto achamos.
Nem tão vivos quanto desejamos.
E ainda assim, tem tanto mais além.
O real potencial se esvai
Por todo ralo que a nossa via cai
Presos numa rotina que só faz amargurar.
E quem se atreve a se libertar, que fim terá?
Terá fim?
As vozes se confundem, me irritam.
Não me deixam continuar o que comecei.
Meu espaço não é meu, lhos curioso pousam sobre mim.
Inspire. Expire.
Já pode descer agora? Já pode pedir emancipação dessa loucura?
Eu respiro problemas, amor meu. Eles adoram grudar em gente como eu.
“O QUE FOI QUE EU FIZ?”, eu grito.
Ouço passos. Mais olhares falsos.
As suas palmas não me agradam, não vou sorrir pra você.
Saia daqui.
Respiro.
De soslaio, percebo que olhos curiosos persistem em querer saber o que escrevo.
Jamais.
Palavrão tímido, desabafo de um homem.
“É foda” resume bem a vida de todos presentes.
Alguns ainda sorriem. Caminham devagar. E enfartam.
Morreram por fingir ser feliz demais.
“Almoçar? Minha casa tem prato sujo desde sexta-feira!”
Desabafo pesado de uma mulher.
Conversas de faxina. Me desligo.
Passos. O chão range irritantemente atrás de mim. Mostra ansiedade, pressa, desespero. Perfil normal de quem vive na atualidade.
Me distraio. Muitas vozes falando ao mesmo tempo.
Não tenho espaço. É irritante.
“Que carinha é essa?” Me perguntam.
Sorrio amarelo, não preciso responder. Engata num monólogo divertidíssimo (apenas para si) e recebe aprovação minha através de um sorriso mais sincero meu.
Vai embora.
Não sinto muita coisa.
Volto a escrever.
O inferno... é aqui.
E ninguém parece notar.”

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Laço de ouro

Doses homeopáticas
Sintonias de prazer
Gosto de 'quero mais'
Até o amanhecer.

Falas inusitadas
Elogios inseguros
Risadas sincronizadas
Mentes encantadas no escuro

Eu quero ver
O que mais há dentro de você
De experiências à sensações
De ciências à desilusões.

De tantas voltas que a gente dá
Esbarramos num curioso encontro
Muito mais que nó; vieste a se enlaçar!
Forte como ferro, belo feito ouro.

Sutileza que traz esperança.
Calmaria pra me apascentar
Beleza que nem criança
Cresce a cada piscar.

E se desenvolve sem sentir
Quando vê, já é ela pura!
O que és por fora só faz convergir
O que por dentro inunda.

Traça esse sorriso com o teu olhar
E as falas com atenção
É pedir pra que eu enlouqueça só de observar
E que sobressalte o coração.

Que haja prosperidade, troca, desejo.
Felicidade de alargar a boca
Traz teu cheiro, traz teu beijo
Que do resto, juntos damos conta.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Por mim? Sim.

Se essa bússola, se essa bússola que te move fosse minha
Eu mandava, eu mandava em mim mirar.
Com flechinhas, com flechinhas de encanto
Pra você, pra você se apaixonar...

O vento que bate desse teu lado
Afaga os meus cabelos quando avisto o mar.
Ah! Quantas águas, quantas águas pra remar!
Ainda assim, a vontade é grande de atravessar.

Atravessar a rua, entrar no outro mundo
Me levar até onde os nossos olhos se esbarrem.
Observar até onde vai este olhar profundo
Que até fechado, causa tanto vislumbre.

Das coisas mais singelas dessa vida
Trago a certeza de que sorriso tão belo nunca vi.
E que de tão maravilhoso foi o tempo
Que nem a hora passando eu senti.

É curioso pensar que, obrigados pelo cansaço
O sono nos pegou, e nos fez descansar
O hilário foi que no mundo das ideias
Continuamos a conversar.

Algumas pequenas faíscas queimavam dentro de mim
Alguma mera timidez se demonstrava nas tuas ações
A admiração que me levou a te observar por horas sem fim
Faz com que eu creia nas próximas situações.

Não chateie-se por eu não ter me despedido, e ter fingido sono.
É que sem jeito fiquei ao notar que...

Eu não queria ir embora.
Eu não queria que você fosse embora.

Então, ao invés de sonhar em voltar no tempo
Nos esbarremos! E simplesmente fiquemos.
Assim.
Sem gosto de fim.

terça-feira, 2 de julho de 2013

No cotidiano, continha um dano.

"Só cinco minutos, eu consigo, é só manter o ritmo!" Ela dizia enquanto corria apressada pela rua. Havia chovido, e sua mão estava ocupada com o dinheiro do ônibus, a bolsa, e o guarda-chuva, que impedia o contato direto da água em sua cabeça.
Ao pensar sobre alguma decepção amorosa que seu coração volta e meia a lembrava - e independente da decepção, a pontada de dor parecia permanecer a mesma - ela acabou se distraindo e diminuindo o passo, e por segundos, não alcançara o ônibus que almejava pegar.
"FILHO DUMA PUTA!" Ela bradou, mais alto do que o comum, e uma parte dentro de si se perguntava se o destinatário de seu xingamento era realmente o pobre transporte público. Pensou em desistir, pensou em voltar pra casa, pensou em ir por um outro caminho. Já estava se sentindo mais derrotada do que nunca - pudera, a vida havia sido dura com ela nos últimos tempos, meses, anos - e não entendera quando o enjoo começou a surgir. O nó que na garganta morava já não tinha mais forças para avisar a jovem que aquela fase da vida estava insuportável de se viver.
Uma vontade imensa de desistir das coisas e encontrar com o acaso na esquina começava a tomar conta dos seus desejos. Afinal, ela poderia suportar tudo, menos o fato de que queria chorar porque perdera sua condução, e a faria chegar atrasada na aula novamente.
Mas ela também sabia que encontrar com o acaso era questão de sorte. Quem disse que o bom acaso sempre está à espreita? Ela tentara isso diversas vezes, e sabe muito bem que a sensação de vazio lhe abraçava à noite, toda vez que sua cabeça alcançava o travesseiro.
Mas uma voz dentro de si disse "Não vai... Fica...". Resolveu persistir. Saberia mais tarde se era no erro, ou no acerto. Saberia também que vida é coisa tão indescritível que os dois termos antagônicos não descreviam momentos assim.
Chegou no seu destino, depois de muito receber chuva na cara. Não fazia mal; na verdade, ela gostava assim. Para sua surpresa, a professora não se encontrava. Em seu lugar, uma monitora refazia a prova dada na semana passada, e apenas uma correção em grupo foi feita. Matéria fácil, uma nota boa coloriu seu dia. Pelo menos se sentia aceita em um parâmetro que a importava.
Na hora de ir embora, as colegas insistiram num bom lanche em grupo. Estavam animadas, e sorrisos e gargalhadas corriqueiras não faltaram. Apesar da intimidade, sentia-se como um apêndice pendurado naquele meio. Poderia ser removido a qualquer hora, e a verdade era que não faria falta alguma. Convivia com esta noção há algum tempo, e aceitava da forma mais tranquila que pudera.
Ao parar no ponto de ônibus, finalmente à caminho de casa, decidiu sair um pouco da rotina e finalmente enfrentar o acaso que lhe cabia: pegara um ônibus que não fugia muito da sua rota, mas mudava em alguma coisa seu retorno ao lar. E mudou, de fato.
Esbarrara com um amigo que há muito não via e por estranho que pareça, a amizade não era de longa data, mas a sensação sim. Gostava quando esses tipos de laços apareciam repentinamente na sua vida para fortalecer a caminhada.
Estranhamente, seu companheiro que sempre emanava uma alegria ímpar, se encontrava pra baixo. Com algumas brincadeiras, palavras e gestos, ela viu uma oportunidade de retribuir um antigo favor que devia ao jovem; o colo humano cala a dor quando ela chega no limite. Era disso do que o rapaz precisava no momento. Aliás, ela muito se perguntava se era apenas ela que achava um absurdo todos aqueles que recusavam um abraço sincero.
Ficou refletindo sobre estas questões quando o amigo desceu do ônibus, pois seu caminho, como o de qualquer outra pessoa, diferenciava e mudava de rumo em algum ponto da vida.
Logo mais descera também, e desejara boa sorte àqueles que ficavam naquela rota, tomando outros mil e um caminhos distintos. Encaminhou-se para casa, pensando em como precisava abraçar-se e mergulhar dentro de si mesma. E isso, de todas as formas possíveis que existissem. O corpo pedia compreensão, a mente pedia descanso. A alma, arrego. O coração, paz.
A sensação de não pertencimento ia embora quando a música se fazia presente. Olhava a sua volta, e via poucos pontos de luz como o seu. Não sabia se isso era bom ou ruim de fato. E passava a crer que independente dessa classificação, só queria estar perto de seus iguais, que sentiam e compreendiam a magia do meio ao redor, como ela fazia.
Ainda que xingasse ônibus, ex-namorados, atuais romances, familiares, à si mesma, ao mundo e até mesmo alguma Divindade, ela tinha total direito de fazê-lo. Ela sabia que voltar pra casa sempre lhe fazia bem. Ela sabia que poderia voltar atrás. Pedir desculpas nunca foi seu forte, mas o tempo e os encontros violentos com a vida ensinaram que há coisas piores.
Terminava seu dia esperançosa, ainda que não tivesse motivos palpáveis para tal. E se sempre voltava pra casa, é porque antes, sempre saía para o mundo. E para isto, ela estava disposta a fazer, de novo, de novo e de novo...
Pois é no mundo que encontravam-se não só respostas para antigos questionamentos; mas novas perguntas. E era a sede que a movia, de qualquer maneira. "Que isto nunca se acabe." Era o desejo que a norteava, antes de dormir e acordar num novo dia.